Bacharel Ricardo Adriano - Delegado de Portalegre
Em 06/01/2013, a pessoa de GILBERLANDIO BEVENUTO DE OLIVEIRA, 24 anos,
desempregado, se apresentou à Polícia Civil de Portalegre, munido de advogado,
e confessou ter tirado a vida de seu primo, ANTÔNIO JAILTON BEVENUTO DA SILVA,
a facadas, no penúltimo dia de 2013. Porém, alegou ter agido em legítima
defesa.
As investigações tiveram início já no local do crime. E apesar da
interrupção causada pelo réveillon, em apenas uma semana o caso restou
solucionado, quando não se tinha, num primeiro momento, sequer um suspeito!!!
Ao se proceder à inquirição de um número expressivo de pessoas, os
investigadores começaram a juntar as informações colhidas, confrontando-as
entre os declarantes, e até mesmo com o principal suspeito, ao final, de modo
que se pôde ter uma nítida ideia de como teria ocorrido o crime. E como a
polícia estava ouvindo a tudo e a todos, não restou outra alternativa ao
principal suspeito que não se apresentar e dar a sua versão dos fatos – versão
esta muito frágil, porque desconexa, distante e até mesmo confrontante com a
versão dada pelas pessoas ouvidas na DP.
Os policiais descobriram que as partes tinham suas desavenças, apesar de
se falarem, inclusive já tendo havido “briga de tapa” entre eles. Bem
como que o suspeito já tinha esfaqueado o padrasto da vítima. Somado a isso, a
não ida do investigado ao enterro (diferente de quando um outro irmão da vítima
morreu, ocasião em que ele foi ao enterro), bem como seu comportamento muito
assustado e diferente após o fato, pesaram muito contra ele.
Na DP, o suspeito confirmou ter ido ao local do crime com a vítima, a
convite dela para comer doce. E em lá chegando, a vítima teria, sem nenhum motivo
aparente, cuspido em sua cara e dito que a mataria. E, para se defender, o
investigado disse que tirou a faca que a vítima trazia consigo e o matou em
legítima defesa. E após o crime, "rebolou" a faca que provavelmente
foi levada pelos cachorros, pelo fato de estar melada de sangue.
Tal versão, como não poderia deixar de ser, virou motivo de piada entre
os policiais, pois se mostrou totalmente dissonante das informações colhidas. E
segundo o Delegado responsável pela conclusão do inquérito, por mais esdrúxula
que ela tenha sido (o que não é tão incomum, uma vez que no ordenamento
jurídico brasileiro o suspeito pode mentir em sua defesa sem que cometa crime,
diferentemente da testemunha), não conseguiu comprometer a elucidação do
caso. Ao contrário! Reforçou as informações colhidas em sentido contrário!
Com a conclusão deste caso, a recém equipe de Polícia Civil da Comarca
de Portalegre, formada há pouco mais de três meses, mantém o surpreendente
índice de 100% de elucidação dos homicídios ocorridos após a sua formação. E
perguntado sobre qual seria o segredo, assim se pronunciou o Delegado Ricardo
Adriano: “Penso que não há segredo, mas sim empenho, persistência e
qualidade no desenrolar das investigações. Os agentes começam a investigar tão
logo sabem da ocorrência de um crime, e passam a buscar provas em tudo e com
todos de forma incessante! Levam provas, fontes de informação ou mesmo indícios
para a Delegacia, onde se faz a análise jurídica delas e, a partir disso,
vai-se tomando as providências jurídicas cabíveis, bem como se repensando sobre
como deve se dar a continuidade das investigações, qual rumo e estratégias a
serem tomados. Isto, portanto, demonstra um trabalho de equipe no sentido
literal da palavra, pois cada parte busca contribuir na elucidação de acordo
com suas atribuições, e o resultado tem sido este! Mas não poderia deixar de
dizer que, além disso, contribui muito para o desempenho que esta equipe vem
tendo, na minha opinião, o fato de ela introjetar a ideia de que a atribuição
precípua da Polícia Civil não é prender simplesmente, mas sim investigar, sendo
a prisão uma decorrência ou não das investigações. Pois isso permite que a
equipe não envide esforços e tempo desempenhando atribuição que não é dela,
ainda que isso não lhe renda muita visibilidade. Portanto, posso dizer que a
Comarca de Portalegre foi agraciada com uma excelente equipe de policiais
civis, o que me dá muito orgulho de fazer parte dela ”.
O inquérito já foi concluído e será encaminhado à Justiça, para que de
lá se faça a remessa do mesmo ao Ministério Público.
O suspeito poderá responder ao processo em liberdade por não ter sido
pego em flagrante, e ainda se apresentado para assumir a autoria. O que não
impedirá que ele, em sendo condenado, possa vir a ser preso por ser considerado
culpado efetivamente.
RICARDO ADRIANO BRITO DE MEDEIROS
Delegado de Polícia Civil da Comarca de Portalegre/RN
Delegado de Polícia Civil da Comarca de Portalegre/RN
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