Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
Sob protestos e um forte
esquema de segurança, a comissão especial que analisa a PEC (Proposta de Emenda
à Constituição) da maioridade penal aprovou, nesta quarta-feira (17), o parecer
apresentado pelo relator, Laerte Bessa (PR-DF). O documento prevê a redução da
maioridade penal de 18 para 16 anos de idade para crimes hediondos, homicídio
doloso, roubo qualificado e lesão corporal grave seguida de morte. O relatório
foi aprovado por 21 votos favoráveis e 6 contra. Agora, a PEC segue para o
plenário da Câmara dos Deputados e deve ser votado, em primeiro turno, no
próximo dia 30.
A sessão desta quarta-feira foi marcada pelo forte aparato de
segurança montado pela Polícia Legislativa. Apenas parlamentares, assessores,
jornalistas e convidados especiais puderam entrar na sala. Militantes de
movimentos estudantis foram barrados, mas fizeram apitaço do lado de fora. Ao
final da votação, Após a votação, deputados da "bancada da bala"
provocaram os manifestantes cantando "eu sou brasileiro, com muito
orgulho, com muito amor'. O grupo era encabeçado pelos deputados Major Olímpio
(PDT-SP), Delegado Waldir (PSDB-GO) e Marco Feliciano (PSC-SP).
Os momentos finais da votação chegaram a ser acompanhados pelo
líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), e pelo ministro da Aviação
Civil, Eliseu Padilha (PMDB). O governo da presidente Dilma Rousseff (PT) é
contra a redução.
Entre os convidados especiais estavam o autor da PEC, o
ex-deputado federal Benedito Domingos e o vereador por São Paulo Ari
Friedenbach (Pros-SP), pai da jovem Liana Friedenbach, estuprada e morta em
2003 pelo então menor de idade Roberto Alves Aparecido Cardoso, conhecido como
Champinha.
O relatório apresentado por Bessa nesta quarta-feira é resultado do acordo costurado pelo presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), publicamente
a favor da medida.
Originalmente, o relatório pedia a redução da
maioridade penal para todos os crimes. O novo documento,
no entanto, restringe a redução da maioridade penal aos crimes hediondos e
outros crimes considerados de maior gravidade. O relatório também extingue a
previsão de um referendo em 2016 durante as eleições municipais sobre o
assunto.
O acordo
costurado por Cunha foi uma resposta às tentativas do PT e do governo de tentar
evitar a aprovação a PEC. Na terça-feira (16), o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, anunciou que o governo apoiaria um projeto de lei do senador José
Serra (PSDB-SP) que, em vez de reduzir a maioridade penal,
aumentaria as penas de internação previstas no ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
Atualmente, a pena máxima
prevista pelo ECA é de três anos de internação. De acordo com o parecer
apresentado pelo relator do projeto, senador José Pimentel (PT-CE), as penas
poderiam chegar a oito anos de internação.
Para entrar em vigor, a PEC da redução da maioridade deve ser
aprovada em dois turnos tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Por ser
uma PEC, não é necessária a sanção presidencial.
Em março deste ano, a CCJ (Comissão de Constituição de
Justiça) da Câmara aprovou a admissibilidade da proposta.
Havia o argumento de que a PEC feria uma "cláusula pétrea" da
Constituição e que, por isso, não deveria ser aceita. No entanto, a CCJ aprovou
que o assunto começasse a tramitar.
Deputados contrários à redução da idade penal tentaram impedir a
votação do relatório nesta quarta-feira. Weverton Rocha (PDT-MA) alegou que o
documento ao qual os deputados haviam tido acesso na última quarta-feira era
diferente do que foi colocado em votação por conta das alterações feitas por
Bessa.
Entre os deputados que se manifestaram a favor da PEC, João
Rodrigues (PSD-SC) disse que não é a favor da redução da maioridade penal por
"jogar para a torcida" e citou o caso da Indonésia, onde a pena de
morte é legalizada.
"A indonésia tem 130 pessoas no corredor da morte pelo tráfico
de drogas. O índice de homicídios é infinitamente menor que no Brasil. Crimes
cometidos por menores são quase inexistentes. Vamos decretar pena de morte no
Brasil? Inevitavelmente, é disso que falaremos no futuro", afirmou.
A deputada Margarida Salomão (PT-DF), contrária à medida, disse
ser a favor do aumento das penas previstas no ECA e afirmou que ainda não houve
tempo para avaliar, adequadamente, a eficácia do Estatuto, criado em
1990. "Em termos históricos, isso (25 anos) não é nada. Para que
possamos apreciar uma política pública, é fundamental que se tenha prazo para
que essa política seja adequadamente avaliada", afirmou.
O deputado Glauber Braga (PSB-RJ), também contrário à medida,
também tentou impedir que o relatório fosse votado nesta quarta-feira. Ele
ingressou com um requerimento pedindo o adiamento da votação por cinco sessões,
mas o pedido foi rejeitado.
Tensão
Mesmo com o plenário fechado, a sessão foi conduzida sob um
clima de tensão. Um dos momentos mais tensos da sessão foi durante o discurso
do deputado Delegado Edson Moreira (PTN-MG) que citou o caso de Liana
Friedenbach. Durante o seu discurso, Ari Friedenbach se levantou e interrompeu
o discurso do parlamentar.
Foi necessária a intervenção do presidente da comissão, André
Moura (PSC-SE), para que Ari voltasse ao seu lugar. Moura chegou a ameaçar
retirar Ari da sessão caso ele não retornasse ao seu lugar. Ari, que já defendeu a redução da
maioridade, hoje é contrário à medida.
"Entre defender o convidado e o parlamentar, fico com o parlamentar",
disse Moura.
Do lado de fora do plenário onde a sessão foi realizada, um
grupo de aproximadamente 30 pessoas entoava refrões contra a medida e fazia
apitaço.
"Essa sessão ter sido realizada sem a presença do público é
um péssimo sinal para a nossa democracia. É uma demonstração ditatorial da
diretoria da Casa", disse Patrick Lima, membro da diretoria da UNE (União
Nacional dos Estudantes). Sempre que um deputado a favor da redução da
maioridade saía do plenário onde a sessão se realizava, os manifestantes
gritavam: "Não, não, não à redução".
No último dia 10, a sessão em que o relatório de Bessa seria
apresentado terminou em tumulto entre parlamentares, manifestantes contrários à
redução da maioridade e seguranças. A polícia usou até spray de pimenta e pelo
menos seis pessoas tiveram de ser atendidas pelo serviço médico da Casa. O
presidente da comissão determinou, então, que a sessão fosse realizada a portas
fechadas.
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