Por Josmar Jozino/Ponte.Org
José de Arimatéia Pereira de Carvalho cumpre pena
de 86 anos em Mossoró (RN); agentes prisionais acreditam que intenção era
iniciar uma rebelião
Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do
Norte | Foto: Divulgação/Depen
O preso José de Arimatéia Pereira Faria de
Carvalho, o Pequeno, 35 anos, apontado como integrante da cúpula do PCC
(Primeiro Comando da Capital), driblou o corpo de segurança da Penitenciária
Federal de Mossoró (RN) e teve acesso a duas espingardas calibre 12.
O episódio, até então escondido a sete chaves,
aconteceu em 28 de dezembro do ano passado, nas vésperas das festas de fim de
ano, e pôs em xeque a vigilância no presídio federal, considerado uma unidade
de segurança máxima.
Pequeno estava na cela 03 da ala B quando foi
levado pelos agentes federais Carlos Bruno Araújo da Silva e Cláudio César
Bastos Alves para o pátio de banho de sol.
Junto com Pequeno foram levados o parceiro dele,
Cristiano Dias Gangi, o Crisão, também apontado como integrante da cúpula do
PCC, e o preso Adriano Hilário, da cela 35B. Os três ficaram no mesmo
pátio e um quarto detento tomava banho de sol isolado em um local ao lado.
Os agentes Carlos e Cláudio e o prisioneiro Pequeno
foram ouvidos em declarações no processo disciplinar instaurado para apurar ato
infracional atribuído aos dois integrantes do PCC.
No depoimento, Carlos afirmou que depois de deixar
os três presos no banho de sol retornou com o agente Cláudio à ala B para
realizar revista nas celas.
Ele acrescentou que enquanto faziam a revista na
primeira cela perceberam que o interno Pequeno se aproximava correndo na
direção deles portando uma espingarda calibre 12. O preso deixou a outra arma
no corredor da mesma ala, onde as armas tinham sido deixadas pelos agentes.
Segundo Carlos, Pequeno gritou para eles: “perdeu,
perdeu”. Os agentes conseguiram fechar a porta da cela. Carlos contou que tomou
um susto por causa da gravidade da situação.
Ele disse também que Pequeno conseguiu abrir
brechas na porta da cela e apontar a espingarda em direção aos dois agentes e
que o preso só não atirou porque a arma estava travada ou em pane.
O agente Cláudio declarou no depoimento que
empurrou a porta e o preso para trás e conseguiu segurar a espingarda. Afirmou
ainda que em seguida ele e Carlos, depois de muita resistência, jogaram o preso
no chão, o imobilizaram, o desarmaram e o algemaram.
Os agentes não souberam explicar como Pequeno
conseguiu sair do pátio do banho de sol. Cláudio, porém, disse acreditar que
Pequeno saiu através de um pequeno vão nas grades onde os presos são algemados.
O agente ainda tem dúvidas e ele pontuou no
depoimento que o vão entre as grades onde os presos são algemados é muito
pequeno. “O buraco é muito pequeno e acredito ser impossível
alguém conseguir passar por lá”, relatou.
Carlos e Cláudio disseram que a intenção de Pequeno
era atirar neles, pegar chaves de celas, soltar os presos e dar início à
rebelião. Eles explicaram que as balas da espingarda são de borracha, mas que
se os disparos fossem disparados à curta distância, como era o caso, poderiam
ser letais.
Pequeno também foi ouvido e negou a intenção de
atirar nos agentes e de abrir as outras celas para promover uma rebelião no
presídio. Ele afirmou que seu objetivo era render os guardas, colocar o
uniforme de um deles e tentar a fuga sozinho.
O prisioneiro disse que não atirou nos agentes
porque não quis, pois entende de armas e a espingarda calibre 12 não
apresentava pane nem estava travada. “Eu não tinha intenção em nenhum
momento de efetuar disparos. Minha intenção era apenas ameaçar e tentar fugir”,
contou.
Durante o depoimento, Pequeno revelou que após a
liberação para o banho de sol passou pela fresta do local onde são colocadas as
algemas nos presos. “Primeiro eu coloquei a cabeça e depois o corpo. Passei
muito rápido, sem dificuldade, em poucos segundos”.
Depois disso, ele subiu na ala B, pegou as amas,
deixou uma no chão e levou a outra, mirando em direção aos agentes. O preso
acrescentou que tinha conhecimento da rotina do presídio e percebeu que em
todos os plantões os portões que dão acesso ao pátio do banho de sol ficam
abertos.
“Eu tinha certeza que passaria pela fresta e
pegaria as espingardas. Sou condenado a mais de 80 anos de cadeia. Só queria
passar pelos portões vestido de agente e fugir”, declarou.
Depois de imobilizar Pequeno, os agentes voltaram
para o banho de sol e encontraram Crisão muito exaltado. Segundo os
funcionários, ele desobedeceu a ordem para deitar-se no chão e gritou: “Lá fora
é tiro na cara. Tem fuzil. Lá fora a gente mata mesmo”, ameaçou.
Crisão também foi imobilizado e depois conduzido
para a cela 30B. No depoimento ele disse que ficou nervoso porque os agentes
jogaram uma granada de luz e de som e efetuaram um disparo no pátio de banho de
sol.
Os agentes alegaram que efetuaram o disparo para
testar a arma e saber se ela apresentava pane ou estava travada. As
espingardas as quais Pequeno teve acesso se encontravam em condições normais de
tiro.
Os dois presos correm o risco de ficar um ano em
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Trata-se de um castigo no qual os presos
não recebem visita, não tem acesso a rádio, TV, jornal e revista e ficam
isolados em cela individual 24 horas, todos os dias.
Pequeno é condenado a 86 anos e dois meses de
prisão e Crisão a 62 anos e nove meses. Ambos foram transferidos da
Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, para a
Penitenciária Federal de Mossoró, em fevereiro de 2019.
No dia 23 de março deste ano, o juiz federal Walter
Nunes da Silva Júnior, do Rio Grande do Norte, deferiu o pedido de prorrogação
do prazo de internação de Crisão no Presídio de Mossoró até 7 de fevereiro de
2023.
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